Um dia escutei que o Acre não existia e, então, decidi que iria mostrar que esse estado, muitas vezes esquecido pelos brasileiros, existe sim. O resultado é esse post contando o que fazer no Acre, cheio de dicas e aprendizados.
Spoiler: para mim, a melhor atração do Acre é o Parque da Serra do Divisor. Devido ao contato intenso com a Floresta Amazônica e por tudo que essa experiência pode proporcionar.
O que você precisa saber sobre o Acre
Além da distância geográfica, acredito que o motivo de não ter tantos visitantes nacionais no Acre seja o fato de o turismo na região ainda estar começando a ser desenhado. H´á ainda questões políticas, estruturais, ambientais e sociais.
Vale contar que como uma mulher viajando sozinha pelo Acre recebi o apoio de pessoas incríveis desde antes mesmo de chegar, mas também passei por situações complicadas e muito perrengue.
Qual a capital do Acre?
Vamos começar do básico, a capital do Acre é Rio Branco. O estado está localizado na região Norte do Brasil, fazendo divisa com Amazonas e Rondônia e fronteira com o Peru e a Bolívia. Quem nasce no Acre é acreana (o).
Clima no Acre
O clima no Acre é predominantemente equatorial (quente e úmido), mas podem haver quedas bruscas de temperatura. A época do ano mais seca vai de junho a setembro. Entre outubro e abril as chuvas geralmente são intensas e constantes.
O desmatamento da Amazônia que cada vez mais muda a paisagem da região também traz alterações climáticas. Lugares em que antes havia floresta, hoje há savanas e cerrado, ocasionando, por exemplo, a secura mais intensa de rios e quedas maiores de temperatura.
Aliás, isso me impressionou muito logo de cara, pois ao chegar em Rio Branco achei que iria encontrar floresta e já tive a impressão de que era tudo um grande pasto. Na realidade, me lembrou muito mais o Centro-Oeste do que o Norte do Brasil.
O que comer no Acre?
A culinária do Acre tem a influência indígena, boliviana, árabe e nordestina. Eu admiro que a alimentação vem muito do que se planta, caça e cria localmente, respeitando as épocas e os processos dos alimentos. Os pratos mais tradicionais do Acre são:
- Quibes de arroz e de macaxeira recheados com carne moída.
- O Baixaria em que a receita mais clássica vai cuscuz de milho, carne moída, tomate, cebolinha e ovo frito. Geralmente é consumido no café da manhã e no p´ós-festa.
- Mingau de tapioca e de banana.
- A Saltenha que lembra uma empanada recheada de frango e batata, mas é frita. Há ainda uma versão com Tucupi e folha de Jambu.
- Peixes de água doce como Tucunaré, Pirarucu e Tambaqui.
- O Tacacá que é um prato bem típico no Norte do Brasil leva tucupi, jambu, camarão seco e goma.
- Abacaxi e cupuaçu.
Quais cidades visitar no Acre?
Se eu tivesse que escolher só um lugar no Acre para ir, sem dúvida, eu escolheria a região de Cruzeiro do Sul. Muito porque foi lá que eu consegui vivenciar as experiências mais profundas relacionadas a Floresta Amazônica.
No Vale do Juruá, onde fica Cruzeiro do Sul, também é possível conhecer Tarauacá. O município é a terra dos abacaxis gigantes, tem belezas naturais, praias e abriga o Festival Yawanawá.
Do outro lado do estado está Rio Branco. A capital e maior cidade do Acre tem uma boa gastronomia e locais que contam a história local.
Em Xapuri fica a Casa de Chico Mendes e seu acervo (Rua Batista de Moraes, 487). O imóvel é tombado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Há ainda a Reserva Extrativista Chico Mendes com trilhas e seringais em meio a floresta.
Basíleia é uma cidade que faz fronteira com a Bolívia e há quem atravesse para fazer compras no país vizinho. Os atrativos são a Ponte da Amizade, o Parque Centenário e o Balneário Jarinal.
Assis Brasil tem a tríplice fronteira: Brasil, Peru e Bolívia e é um ponto de passagem para quem quer ir para esses outros países.
O que fazer em Rio Branco
As principais atrações turísticas de Rio Branco estão no centro da cidade, então, é bem prático conhecer tudo. Vou listar o que fazer em Rio Branco!
- Calçadão da Gameleira: marco zero e primeira rua de Rio Branco. O ponto às margens do Rio Acre é um patrimônio histórico e abriga bares e restaurantes.
- Palácio Rio Branco: sede do governo do Acre inspirado nas edificações gregas.
- Biblioteca da Floresta: reúne arquivos e livros sobre a colonização do Acre e abriga exposições sobre a população seringueira e Chico Mendes.
- Catedral Nossa Senhora de Nazaré: arquitetura em estilo romano com vitrais com cenas da Via Crúcis.
- Parque Ambiental Chico Mendes: o maior parque da cidade, com trilhas, zoológico, mirante e um memorial dedicado a Chico Mendes e aos seringueiros.
- Museu da Borracha: é um espaço cultural dedicado a cultura e a história acreana.
- Mercado Velho: concentra restaurantes, lanchonetes e bares, barraquinhas de comida, de artesanato e outros produtos locais. Aqui também está a entrada da Passarela Joaquim Macedo.
- Parque Capitão Ciriaco: é o maior seringual urbano do mundo e um verdadeiro museu a céu aberto.
- Outros pontos: Praça da Revolução, Parque São Francisco, Parque Tucumã, Lago do Amor, Horto Florestal, Canal da Maternidade e Memorial dos Autonomistas.
Onde comer em Rio Branco?
Em Rio Branco, você pode comer os quibes, a Baixaria e os mingaus em qualquer hor´ário no Mercado do Bosque porque ele funciona 24 horas. No Cantinho Lanche do Pastor tem a Saltenha mais famosa.
A comida árabe pode ser encontrada no Jarude. O Mercado Velho é bom para bater aquele pratão e gastar pouco. Tomar tacacá é na Praça da Revolução.
Há ainda restaurantes que funcionam nos quintais das casas. Pela proximidade com o Peru, dá para achar lugares que vendem ceviche, dizem que foi o primeiro lugar a ter a iguaria no Brasil.
Como se locomover em Rio Branco?
Dá para fazer praticamente tudo a pé no centro (o que não é muito recomendado à noite), mas também há táxis, mototáxis e carros de aplicativo como Uber e 99. Além do transporte público.
Como ir do Aeroporto ao Centro de Rio Branco?
Do aeroporto at´é o centro de Rio Branco é possível pegar um ônibus que vai até o Terminal Tucumã e de lá você faz uma baldeação gratuita para a linha que leva até seu local de destino. As pessoas são bem solícitas e vão te ajudar nesse processo.
Como o aeroporto fica longe, pode ser que seja difícil encontrar um carro de aplicativo disponível no momento da sua chegada. Outro problema, é que na ida até o aeroporto alguns motoristas podem querer que você pague o valor em dobro da corrida para que possa custear a volta dele. Não paguei nenhuma das vezes, mas dizem que é o normal.
Onde se hospedar em Rio Branco?
Os melhores bairros para se hospedar em Rio Branco são o Centro e o Bosque. Confira algumas hospedagens no Booking e leia bem os comentários para fazer a sua escolha.
Como ir de Rio Branco a Cusco?
Sim, é possível ir de Rio Branco a Cusco, no Peru! O trajeto é feito por terra, então, se você estiver de carro vai ser tranquilo, mas também tem como fazer usando transportes públicos.
Há um ônibus que vai direto de Rio Branco a Cusco da empresa peruana Ormeño, mas ele só faz o trajeto aos domingos. Então, é mais comum fazer uma saga com algumas trocas de transporte. No geral, a viagem leva 24 horas. Vamos ao passo a passo:
- Na Rodoviária Internacional de Rio Branco, pegue um ônibus com destino a Assis Brasil. O trajeto é feito pela PetroAcre e TransAcreana e demora cerca de 7 horas (tem muitas paradas).
- Em Assis Brasil, você pode ir andando, pegar mototáxi ou táxi até a Polícia Federal e registrar sua saída do Brasil.
- Depois, com o mesmo transporte, você atravessa a ponte até a fronteira do Brasil com Iñapari, no Peru. Nesse ponto, você pode pegar um Tuk Tuk até a imigração. Dá para ir andando, mas cansa um pouco. (Dizem que é uma boa cidade para trocar as moedas, com boas cotações)
- De Iñapari pegue uma van até Puerto Maldonado. É um trajeto que leva cerca de 4 horas.
- Em Puerto Maldonado há ônibus que levam até Cusco. Civa, Movil Tours, Palomino, Expreso Los Chankas são algumas das empresas que fazem o trajeto que demora cerca de 9 horas. Daqui também é possível pegar um voo comercial.
Controle de fronteiras
Tentei fazer esse trajeto assim que as fronteiras do Peru abriram para brasileiros, elas estavam fechadas como medida de contenção da Covid, porém não consegui entrar no país por via terrestre.
Havia muito desencontro de informações sobre o ingresso no país vizinho e na imigração disseram que a única maneira era tendo uma autorização que poderia ser conseguida por e-mail em um prazo de 24 horas.
Durante o fechamento das fronteiras terrestre feito pelo Peru, os brasileiros fazem a travessia por meio de barcos de forma ilegal, mas corriqueira.
Os policiais peruanos podem fazer a deportação, mas falaram que eles aceitam propina. Para mim, não valia o risco, então, não foi dessa vez que eu visitei o Peru. Preferi seguir viagem para o Amazonas, mas depois viajei ao país!
O que fazer em Cruzeiro do Sul?
Como eu disse anteriormente, para mim, Cruzeiro do Sul – Vale do Juruá – é o melhor local para se fazer turismo ecológico no Acre. A região tem bastante potencial e eu desejo muito que eles possam desenvolver a atividade de forma sustentável, preservando as riquezas naturais e culturais.
Principais atrações de Cruzeiro do Sul
A minha primeira dica do que fazer em Cruzeiro do Sul para simplificar e evitar perrengues desnecessários é entrar em contato com a Juruá Tour – (68)992135164. Eles são super solícitos e adeptos do turismo regional comunitário. Além dos passeios, podem dar indicações de transporte e hospedagem.
Os pontos que eu mais gostei e recomendo muito são o Crôa e o Parque da Serra do Divisor. Mas, vou deixar uns outros locais aqui:
- Catedral Nossa Senhora da Glória: edificação de arquitetura germânica que tem um mirante com vista para o Rio Juruá. A praça ao lado da igreja tem uma vista legal para curtir o pôr do sol.
- Morro da Glória: fica na parte alta e permite ter uma boa vista da cidade.
- Ponte da União: liga o Vale do Acre ao Vale do Juruá.
- Igarapé Preto, Balneário João Machado, Balneário Cunha e Banho da Alegria: locais para se refrescar em meio a natureza. Cada ponto tem uma coloração diferente de água.
Crôa
Para chegar ao Crôa, é preciso ir até o Porto do Rio Crôa que fica a 20 minutos do centro de Cruzeiro do Sul. De lá, você pega um barco que te permite navegar pelas águas do rio, observando as belezas da Floresta Amazônica, a forma de vida dos povos locais, a fauna e a flora.
Você pode fazer isso por conta, com táxi ou mototáxi. Ou pode fechar o passeio completo com a Juruá Tour (o que para mim valeu mais a pena).
Há algumas pousadas na margem do rio para aproveitar o dia relaxando na rede, brincando nas águas e principalmente se deliciando com pratos típicos bem caseiros. Eu fiquei no Crôa Sabor e Lenha. Vale a pena se programar para se hospedar nesses lugares!
Ayuasca
Tem uma galera que busca o Acre para consagrar a Ayuasca, já que o estado é o berço do Santo Daime. Há muitas Associações, comunidades indígenas e nessa região do Crôa há alguns lugares que recebem esses visitantes para os rituais xamânicos.
Do Aeroporto ao centro de Cruzeiro do Sul ou Mâncio Lima
Os trajetos do aeroporto de Cruzeiro do Sul até o centro da cidade ou até Mâncio Lima podem ser feitos por táxi ou carros como se fossem Uber. Quando for fechar a hospedagem ou passeios vale pedir indicações de motoristas para te buscar e já negociar os valores com eles.
Uma outra opção para tentar economizar, é ficar atenta na hora do desembarque e ver se alguém quer dividir a corrida com você.
O ônibus que vai de Mâncio Lima para Cruzeiro de Sul passa na frente do aeroporto e pode ser uma opção, porém, eu só peguei ele no sentido contrário – de Mâncio Lima para o aeroporto. Essa é sem dúvida a forma mais econômica! Só perde para carona (que foi o que eu fiz para ir do aeroporto para o centro de Cruzeiro do Sul).
Parque da Serra do Divisor – Serra do Moa
O Parque Nacional da Serra do Divisor é considerado o lugar de maior biodiversidade do mundo. A área é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (o ICMBio), porém não é difícil ver (e ouvir) o desmantamento acontecendo de forma acelerada. Além de ter projetos que podem viabilizar uma maior exploração da região.
Também conhecido como Serra do Moa, o parque faz fronteira com o Peru.
Onde se hospedar na Serra do Divisor?
Acho que um bom ponto de partida para realizar a viagem é entrar em contato com as pousadas e com a Juruá Tour e pedir recomendações de barqueiros e, se como no meu caso, você for sozinha, tentar entrar em algum grupo para reduzir o custo da viagem e ter um passeio mais seguro. Mas, mesmo assim, tem que ficar atenta!
- Pousada do Edmilson – @pousadaedmilsonserradodivisor / (68) 99959-5475
- Juruá Tour – @juruatour / (68)99213-5164
- Pousada Canindé – @canindepousada / (68) 99946-0496
- Pousada do Miro – @pousada_do_miro / (68) 99971-2127
Eu me hospedei na Pousada Canindé, mas acabei conhecendo as outras hospedagens também. Há banheiros compartilhados em todas elas. Na Pousada do Edmilson e do Miro há quartos com mais privacidade, como se fossem chalés. Fui bem recebida em todas elas!
A energia é solar e geralmente permite que as luzes funcionem por um período durante a noite. Você pode escolher a estadia com as refeições inclusas, levar os alimentos para a cozinheira preparar ou cozinhar lá (não há onde comprar).
A água é de um igarapé, então, se tiver problemas com isso, melhor levar também.
Como chegar a Serra do Divisor?
O primeiro passo é chegar a Cruzeiro do Sul, o que pode ser feito por meio de voo comercial ou por via terrestre. Há ônibus da PetroAcre e da TransAcreana de Rio Branco a Cruzeiro do Sul. A viagem dura cerca de 11 horas.
Os barcos para a Serra do Divisor saem bem cedo do porto de Mâncio Lima, por isso, é recomendado passar a noite na cidade. A questão é que quase não há opção de hospedagem, na verdade, só achei um lugar que ´é o Hotel e Distribuidora Voyage (68 9982-9811).
De Cruzeiro do Sul a Mâncio Lima são 35km e há ônibus que faz o trajeto. Além disso, é possível pegar táxi, mototáxi ou carro particular. O aeroporto fica bem no meio do caminho entre as duas cidades.
Eu tive muitos problemas com o meu barqueiro e uma viagem que demoraria cerca de 7 horas demorou 16 na ida e 10 na volta. Na real, ele não era um barqueiro experiente e como eu estava sozinha, aproveitou para fazer a viagem como se fosse a passeio. Foi muito perrengue! Ele foi recomendado pela pousada, mas acredito que não vai ser mais.
O que fazer na Serra do Divisor?
Quando você fecha para ir até a serra é importante se atentar se o seu barqueiro vai ser responsável por todo o seu transporte por lá e você também vai precisar contratar um guia local. Deixe tudo bem claro!
Geralmente, os visitantes ficam por 4 dias na região, sendo que um é de ida, um de volta e dois desbravando o parque. As principais atrações do Parque da Serra do Divisor são:
- Mirante;
- Cachoeiras como Ar Condicionado; Cachoeira Formosa, Cachoeira do Amor, Cachoeira Pedernal, Cachoeira Pirapora, Cachoeira Grande e Cachoeira Mapinguari;
- Buraco da Central, o buracão;
- Rio Moa.
Apesar de todas as dificuldades, estar no meio da Floresta Amazônica, em contato com as pessoas que vivem na região, aprendendo sobre modos de vida diferentes do meu, tendo que lidar com os meus medos, foi uma experiência única e muito importante para mim.